Sobre Individualismo e Rebelião

Traduzido por: Vinicius Yaunner, baseado na tradução do italiano pro inglês de Andy Carloff
Revisado por: Cypherpunks Brasil

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Sobre Individualismo e Rebelião

Há quem defenda que o ser humano é por natureza um ser social. Outros sustentam que o ser humano é por natureza anti-social.

Bem, admito que nunca consegui entender com clareza o que eles queriam dizer com “por natureza”, mas entendi que os dois lados estão errados, já que o ser humano é social e anti-social ao mesmo tempo.

Necessidade, carência, carinho, amor e simpatia são os elementos que o impulsionam para a sociabilidade e a união.

O desejo de independência e o desejo de liberdade a empurram para a solidão e o individualismo. Mas, enquanto o individualismo opera e se realiza contra a sociedade, a sociedade se defende de seus ataques. A guerra entre “societarismo” e “individualismo” é, portanto, uma guerra fértil de vitalidade e energia. Mas, enquanto o indivíduo é necessário à sociedade, esta, por sua vez, é necessária a ele.

O individualismo não poderia existir se não houvesse uma sociedade contra a qual ele pudesse se afirmar e viver, se expandir e se alegrar.


Entre os seres humanos - apenas o rebelde é a figura mais bela e o ser mais completo. Ele sabe como ser a ferramenta potencial de sua vontade. Ele sabe obedecer a si mesmo e comandar a si mesmo, para se preservar e se destruir. Porque o rebelde é aquele que aprendeu o segredo de viver e a arte de morrer.


Aquele que cai rebelando-se contra todos, prevalece mesmo enquanto cai.

E prevalecer significa instilar a chama de seu pensamento e impor a luz de suas idéias aos outros.

Mas o verdadeiro seguidor do rebelde caído é aquele que, ao cair, sabe como se rebelar mesmo contra a “rebelião” do herói já caído.


Qualquer pessoa que deseja que o espírito de rebelião se torne eterno deve desejar que a rebelião do filho não se transforme, por sua vez, na tirania do pai.


Se meu pai se rebelou contra meu avô para não ser escravo da fé paterna, eu me rebelo contra meu pai para não ser escravo da fé que o fez rebelar por sua vez.

Como isso poderia fazer meu filho ser amanhã o que eu sou hoje?


Somente das ruínas de tudo o que o rebelde destruiu pode nascer o gênio criativo.

Mas o que a criação do gênio prepara senão uma nova rebelião?


Concordo com Nietzsche em acreditar que nunca houve necessidade de questionar um mártir para saber a verdade. Mas a força do desejo, a audácia ousada e a vontade criativa hábil são tesouros herdados apenas do gênio, do rebelde, do herói.


Eu vi um gênio “roubar” e um idiota atirar uma bomba mortal em um ministro de estado.

O primeiro roubou para viver com independência e criar com liberdade. O segundo morto por causa de um ódio pessoal oculto e da vontade de morrer.

O primeiro cometeu um “crime comum e vulgar” e é um “criminoso comum”. O segundo cometeu um “crime político” e é um “nobre e generoso criminoso político”. Eu agora pergunto a todos os subversivos, políticos em geral, e anarquistas em particular - se ao enfrentar este fato, é uma chance de elevar outro “crime político” ao esplendor da glória e às festas do sol para o lançar na lama do “crime comum”.


Ai de mim! Ainda há muitos que olham para a obra. Mas antes de olhar para a obra, olho para o criador. No entanto, mesmo para muitos - tantos - anarquistas, parece que o indivíduo conta pouco…

A maioria deles ainda está entre a ralé que diz: “O ser humano não conta. Eventos e ideias contam.” e é por isso que, mesmo entre nós, muitos seres superiores e sublimes foram lançados na lama, enquanto muitos idiotas foram levantados ao sol.


Eu nego o direito de me julgar a todos aqueles que não entendem a voz dos meus anseios, o uivo das minhas necessidades, os voos do meu espírito, a tristeza da minha mente, a emoção das minhas ideias e a angústia do meu pensamento. Mas só eu entendo tudo isso. Você quer me julgar? Está bem então! Mas você nunca vai julgar meu verdadeiro eu. Em vez disso, você julgará o “eu” que você mesmo inventou. Quando você acreditar que me tem entre os dedos para me esmagar, estarei lá em cima, rindo à distância.


Fonte: Of Individualism and Rebelion - Renzo Novatore


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