A Ferrovia Subterrânea Contra-Econômica

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Traduzido por: Iann Zorkot
Revisado por: C4SS, Instituto Ágora, Vinicius Yaunner

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Derrick Broze

Nos últimos dois anos, tenho me concentrado no desenvolvimento de soluções potenciais para libertar corações e mentes das garras da Tecnocracia. Cheguei à conclusão de que qualquer caminho que você escolher para tomar as devidas precauções e planos de emergência é necessário. O clichê espere pelo melhor, prepare-se para o pior se aplica aqui. Embora eu tenha oferecido sugestões para aqueles que optam por segurar as pontas, é imperativo que alguns indivíduos escolham Sair e Construir no caso das “pontas” se soltarem. Esses indivíduos com visão de futuro podem escolher se mudar das grandes cidades para áreas rurais com práticas menos invasivas ou se mudar para uma região próxima com relativamente mais liberdade e privacidade. O objetivo é estabelecer uma rede de comunidades livres que possam servir de refúgio para refugiados do Estado Tecnocrático. Isso é o que chamo de “Ferrovia Subterrânea Contra-econômica” ou simplesmente Ferrovia Subterrânea.

Esta Ferrovia Subterrânea Contra-Econômica é inspirada na “Ferrovia Subterrânea” original da era colonial americana. No final dos anos 1700, ex-escravos, abolicionistas e civis simpáticos formaram uma rede descentralizada de casas seguras que permitiam que os escravos escapassem da escravidão. A maioria dos escravos libertos seguiu para o norte, para o Canadá, mas também havia casas seguras ajudando as pessoas a fugir para o sul para o México. Estima-se que cerca de 1.000 escravos escaparam por ano entre 1850 e 1860. A Ferrovia Subterrânea era inerentemente contra-econômica porque, sob a Lei do Escravo Fugitivo de 1793, a aplicação da lei em estados livres era necessária para ajudar os proprietários de escravos a recapturar os escravos fugitivos. Felizmente, muitos funcionários tiveram o bom senso de ignorar a lei injusta e ajudar ex-escravos a chegar à liberdade. Esta foi uma decisão consciente de violar as demandas do Estado e trocar o risco por um benefício percebido.

Nas notas de seus capítulos inacabados “Contra-Economia Contrabandista” e “Contra-Economia Humana”, SEK3 menciona a Ferrovia Subterrânea como um exemplo de contrabando de pessoas. Em “Contra-Economia Contrabandista”, ele escreveu: “Contrabando de ‘pessoas’ é introduzido, para ser usado no capítulo ‘Contra-Economia Humana’, junto da ferrovia subterrânea do período da Guerra Civil.”

É importante notar que existe uma diferença entre contrabandear uma pessoa voluntariamente e o tráfico humano involuntário feito sob ameaça de violência. O contrabando normalmente envolve a escolha do transporte de mercadorias consideradas ilegais pelo Estado ou a evasão de impostos sobre o transporte dessas mercadorias. O contrabando de pessoas ou humanos envolve um indivíduo pagando outro para ser contrabandeado através das fronteiras internacionais. Embora o contrabando normalmente envolva alguma forma de acordo contratual que termina na chegada ao destino, o tráfico humano envolve o uso de força, abdução, fraude ou coerção. Isso é frequentemente usado para induzir o trabalho forçado ou a exploração sexual. Simplificando, o contrabando torna-se tráfico quando o elemento da força ou coerção é introduzido. Segundo a teoria contra-econômica de Konkin, o contrabando de pessoas é legítimo porque não envolve o início da violência ou coerção. Em “Contra-Economia Humana” SEK3 fornece um pouco mais de detalhes de sua visão:

“Os escravos da Ferrovia Subterrânea moviam-se contra-economicamente, variantes dela ainda existem; contra-economia de proteção a refugiados para libertar as pessoas de uma maior tirania, os grupos minoritários são abordados aqui primeiro, como eles sobrevivem em sociedades hostis e as sub-sociedades que eles formam, em geral, esmagadoramente contra-econômicos… "

Embora não tenhamos o trabalho concluído, é interessante que Konkin mencione grupos minoritários e “como eles sobrevivem em sociedades hostis e as sub-sociedades que eles formam”. Na era do Estado Tecnocrático, aqueles que optarem por se auto-excluir serão os grupos minoritários sobreviventes em sociedades hostis. As sub-sociedades que formamos podem ser as comunidades livres que mantêm a chama da liberdade acesa no futuro. Imagine a Freedom Cell Network se expandindo para ambientes urbanos e rurais em todo o mundo. Aqueles que ficam nas cidades fazem o que podem para combater a Tecnocracia e educar os outros sobre os perigos. Aqueles que saem e constroem comunidades que optam por não receber vários níveis de tecnologia invasiva (com base em suas preferências) e também educam outras pessoas sobre os benefícios da desconexão. As duas estratégias funcionam juntas para extrair o máximo possível de mentes da matrix tecnocrática.

Independentemente de você der ou não valor para a teoria contra-econômica, há lições práticas a serem aprendidas com a ferrovia subterrânea. Os indivíduos que optaram por abrir suas casas para escravos fugitivos decidiram consciente de arriscar serem capturados e aprisionados para poderem ajudar outro ser humano. A polícia e os funcionários do governo que desobedeceram ao Estado aderiram à contra-economia quando perceberam que fazer o que era certo era mais importante do que fazer o que era legal. Os aliados que contrabandearam ex-escravos através das fronteiras internacionais também arriscaram sua liberdade por uma causa justa. Essas são as mesmas decisões que acredito que muitos de nós enfrentaremos nos próximos anos, à medida que o Estado Tecnocrático continuar a crescer.

Os indivíduos que escolherem Sair e Construir agora podem comprar terras, construir moradias e lançar as bases de uma sociedade mais livre. Embora isso inicialmente sirva para sustentar suas próprias famílias, se a merda bater no ventilador, a Ferrovia Subterrânea ajudará escravos da Tecnocracia a fugir para essas comunidades. Este é o papel que estou escolhendo assumir. Não acredito que meu local de nascimento (Estados Unidos) seja recuperável. Não vejo isso como abandonar o navio ou perder as esperanças, mas sim, conscientemente, escolher construir o futuro que desejo, com o entendimento de que outros podem precisar de ajuda em um futuro próximo. Acredito que saindo da cidade, mudando-me para uma região menos invasiva do mundo e construindo em terra, encontrarei minha paz interior e terei a oportunidade de ajudar os outros. Essa pode não ser a função específica que você escolheu, mas existem outras maneiras pelas quais cada um pode ajudar.

Como na Ferrovia Subterrânea original, precisaremos de indivíduos solidários dentro da sociedade hostil que estejam dispostos a abrigar e transportar aqueles que procuram segurança. Precisaremos de funcionários de baixo escalão do Estado dispostos a aceitar suborno ou simplesmente fechar os olhos à Ferrovia Subterrânea Contra-Econômica. Precisaremos de hackers “White Hat” dispostos a criar ferramentas tecnológicas para combater os olhos e ouvidos onipresentes da rede inteligente. Precisaremos de indivíduos que deixem para trás conforto para desenvolver a rede de comunidades livres que em breve poderá abrigar refugiados da Tecnocracia. Finalmente, precisaremos de organizadores que possam ajudar a conectar cada um desses indivíduos da maneira mais descentralizada possível.

Não pretendo saber exatamente como essa ferrovia subterrânea contra-econômica se desenvolverá. A única coisa que sei é que deve se desenvolver o mais rápido possível. Se escolhermos ficar parados enquanto o Estado Tecnocrático aparece, estaremos abandonando as futuras gerações de nossa família humana. Se você está lendo estas palavras, você tem a oportunidade de fazer parte da solução. A única maneira de superarmos a distopia digital é deixar de lado as pequenas diferenças e construir o mundo que sabemos ser possível.

Nota do Tradutor: Hackers ‘White Hat’ são os hackers do bem, que seguem os princípios da Ética Hacker. Num sentido anarquista, pode-se dizer que eles possuem um forte compromisso com a liberdade e com o apoio mútuo.


Fonte: BROZE, Derrick; How to Opt-Out of the Technocratic State - 21/01/2020


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